A separação do casal e a alimentação dos filhos
Fazer a criança comer alimentos saudáveis é uma das tarefas mais árduas dos pais. Mas a missão pode se tornar ainda mais árida em um cenário de separação ou divórcio do casal. Como se não bastassem todos os conflitos envolvidos na dissolução do casamento, pai e mãe precisam lidar ainda com a mudança de hábitos à mesa e o contraste entre os padrões alimentares.
A Dra. Elenice Marioto Blaya, médica pediatra, revela que o impacto já é tema até mesmo em estudos cientÃficos. No inÃcio de 2015, pesquisadores do Departamento de Psicologia da Universidade de São Francisco (EUA) estudaram por cinco dias o comportamento à mesa de 37 crianças entre 9 e 11 anos. O resultado, publicado na revista cientÃfica Childhood Obesity, mostrou que os filhos de pais divorciados tendem a ingerir mais refrigerantes, jantar fora de casa com mais frequência e não se alimentar adequadamente no desjejum – hábitos que favorecem os crescentes Ãndices de obesidade.
As consequências podem ser ainda piores quando os pais têm pensamentos opostos sobre o regime de alimentação. Por exemplo: um deles é onÃvoro e o outro, vegano. O pai libera os doces e o fast-food, enquanto a mãe obriga a comer brócolis e arroz integral. Como conciliar?
Dra. Elenice afirma que, em casos de divórcio, a preocupação com a alimentação da criança, vegetariana ou onÃvora, não deve ser assumida com exclusividade por um dos pais, de forma que um passe a imagem de rigoroso e o outro de permissivo. Afinal de contas, não existe ex-pai e ex-mãe, e a ruptura do casal, por si só, já provoca muito sofrimento. “A criança pode ter o apetite alterado devido à ansiedade com relação à dissolução do casamento e também descobrir na alimentação uma arma poderosa para chamar atenção e conseguir que seus desejos e vontades sejam facilmente realizadosâ€, alerta a Dra. Elenice.
O ex-casal também deve tomar muito cuidado para que a criança não seja usada como munição para as desavenças e disputas materiais. “O processo de separação é naturalmente conturbado, e se a criança for usada como bode expiatório, tudo vai piorar, com o risco de abrir a porta para transtornos alimentares futuros, como bulimia e anorexia. A despeito de mágoas e rancores, o melhor caminho sempre é o diálogo aberto para definir o que é melhor para o filho, para evitar dualidades, com a consciência de que continuam juntos como paisâ€, pondera a doutora.
Vale frisar que, mesmo com o fim do casamento, a paternidade é para sempre. Há algo ali a mais do que a herança genética: amor. E esse sentimento deve unir pai e mãe no sentido de dividir as responsabilidades pelo bem-estar da criança. “Saúde é uma construção que precisa ser compartilhada pelos familiares de forma harmônica, coerente e respeitosa, ainda que vivendo em casas separadas, com o pacto de diretrizes alimentares a ser seguidas por ambos na tarefa de alimentar o filhoâ€, finaliza a pediatra.
A Dra. Elenice Mariotto Blaya é integrante do corpo clÃnico da Saúde Center ClÃnica de Tapejara. Informe-se pelo telefone 3344-3600.